domingo, 26 de outubro de 2014

Auto-Flagelação

"Embora não nos seja possível, por enquanto, apreciar convosco a fisiologia da alma, como seria desejável, de modo a imprimir ampla clareza ao nosso estudo, para breve comentário, em torno da flagelação que muitas vezes impomos, inadvertidamente, a nós mesmos, imaginemos o corpo terrestre como sendo a máquina da vida humana, através da qual a mente se manifesta, valendo-se de três dínamos geradores, com funções específicas, não obstante extremamente ligados entre si por fios e condutos, de variada natureza. O ventre é o dínamo inferior. O tórax é o dínamo intermediário. O cerebelo é o dínamo superior. O primeiro recolhe os elementos que lhe são fornecidos pelo meio externo, expresso na alimentação usual, e fabrica uma pasta aquosa, adequada à sustentação do organismo. O segundo recebe esse material e, combinando-o com os recursos nutritivos do ar atmosférico, transmuta-o em líquido dinâmico. O terceiro apropria-se desse líquido, gerando correntes de energia incessante. No dínamo-ventre, detemos a produção do quilo. No dínamo-tórax, presenciamos a metamorfose do quilo em glóbulo sanguíneo. No dínamo-cerebelo, reparamos a transubstanciação do glóbulo sanguíneo em fluido nervoso. Na parte superior da região cerebral, temos o córtex encefálico, representando a sede do espírito, algo semelhante a uma cabine de controle, ou a uma secretária simbólica, em que o "eu" coordena as suas decisões e produz a energia mental com que governa os dínamos geradores a que nos reportamos. O ser humano, desse modo, em sua expressão fisiológica, considerado superficialmente, pode ser comparado a uma usina inteligente, operando no campo da vida, em câmbio de emissão e recepção. Concentramos, assim, força mental em ação contínua e despendemo-la nos mínimos atos da existência, através dos múltiplos fenômenos da atenção com que assimilamos as nossas experiências diuturnas, atuando sobre as criaturas e coisas que nos cercam e sendo por elas constantemente influenciados. Toda vez, contudo, em que nos tresmalhamos na cólera ou na crueldade, contrariando os dispositivos da Lei de Deus, que é amor, exteriorizamos correntes de enfermidade e de morte, que, atingindo ou não o alvo de nossa intemperança, se voltam fatalmente contra nós, pelo princípio inelutável da atração que podemos observar no imã comum. Em nossas crises de revolta e desesperação, de maledicência e leviandade, provocamos sobre nós verdadeira tempestade magnética que nos desorganiza o veículo de manifestação, seja nos círculos espirituais em que nos encontramos, ou, na Terra, enquanto envergamos o envoltório de matéria densa, sobre a qual os efeitos de nossas agressões mentais, verbais ou físicas, assumem o caráter de variadas moléstias, segundo o ponto vulnerável de nossa usina orgânica, mas particularmente sobre o mundo cerebral em que as vibrações desvairadas de nossa impulsividade mal dirigida criam doenças neuropsíquicas, de diagnose complexa, desde a cefalagia à meningite e desde a melancolia corriqueira à loucura inabordável. Toda violência praticada por nós, contra os outros, significa dilaceração em nós mesmos. Guardemo-nos, assim, na humildade e na tolerância, cumprindo nossos deveres para com o próximo e para com as nossas próprias almas, porque o julgamento essencial daqueles que nos cercam, em verdade, não nos pertence. Desempenhando pacificamente as nossas obrigações, evitaremos as deploráveis ocorrências da autoflagelação, em que quase sempre nos submergimos nas trevas do suicídio indireto, com graves compromissos. Preservando-nos, pois, contra semelhante calamidade, não nos esqueçamos da advertência de nosso Divino Mestre no versículo 41, do capítulo 26, das anotações do apóstolo Mateus: - "Orai e vigiai, para não entrardes em tentação." Dias da Cruz" (Do livro "Vozes do Grande Além", pelo Espírito Dias da Cruz, Francisco Cândido Xavier, 29/09/1955)

Tensão Emocional

Não raro, encontramos, aqui e ali, os irmãos doentes por desajustes emocionais. Quase sempre, não caminham. Arrastam-se. Não dialogam. Cultuam a queixa e a lamentação. E provado está que, na Terra, a tensão emocional da criatura encarnada se dilata com o tempo. Insegurança, conflito íntimo, frustração, tristeza, desânimo, cólera, inconformidade e apreensão, com outros estados negativos da alma, espancam sutilmente o corpo físico, abrindo campo a moléstias de etiologia obscura, à força de se repetirem constantemente, dilapidando o cosmo orgânico. Se consegues aceitar a existência de Deus e a prática salutar dessa ou daquela religião em que mais te reconfortes, preserva-te contra semelhante desequilíbrio... Começa, aceitando a própria vida, tal qual é, procurando melhorá-la com paciência. Aprende a estimar os outros, como se te apresentem, sem exigir-lhes mudanças imediatas. Dedica-te ao trabalho em que te sustentes, sem desprezar a pausa de repouso ou o entretenimento que se te restaurem as energias. Serve ao próximo, tanto quanto puderes. Detém-te no lado melhor das situações e das pessoas, esquecendo o que te pareça inconveniente ou desagradável. Não carregues ressentimentos. Cultiva a simplicidade, evitando a carga de complicações e de assuntos improdutivos que te furtem a paz. Admita o fracasso por lição proveitosa, quando o fracasso possa surgir. Tempera a conversação com o fermento da esperança e da esperança e da alegria. Tanto quanto possível, não te faças problema para ninguém, empenhando-te a zelar por ti mesmo. Se amigos te abandonam, busca outros que consigam compreender com mais segurança. Quando a lembrança do passado não contenha valores reais, olvida o que já se foi, usando o presente na edificação do futuro melhor. Se o inevitável acontece, aceita corajosamente as provas em vista, na certeza de que todas as criaturas atravessam ocasiões de amarguras e lágrimas. Oferece um sorriso de simpatia e bondade, seja a quem for. Quanto à morte do corpo, não penses nisso, guardando a convicção de que ninguém existiu no mundo, sem a necessidade de enfrentá-la. E, trabalhando e servindo sempre, sem esperar outra recompensa que não seja a bênção da paz na consciência própria, nenhuma tensão emocional te criará desencanto ou doença, de vez que se cumpres o teu dever com sinceridade, quando te falte força, Deus te sustentará e onde não possas fazer todo o bem que desejas realizar Deus fará sempre a parte mais importante!... (Do livro "Companheiro", pelo Espírito Emmanuel, Francisco C. Xavier)

A Culpa

Quando fugimos ao dever, precipitamo-nos no sentimento de culpa, do qual se origina o remorso, com múltiplas manifestações, impondo-nos brechas de sombra aos tecidos sutis da alma. E o arrependimento, incessantemente fortalecido pelos reflexos de nossa lembrança amarga, transforma-se num abscesso mental, envenenando-nos, pouco a pouco, e expelindo, em torno, a corrente miasmática de nossa vida íntima, intoxicando o hausto espiritual de quem nos desfruta o convívio. A feição do ímã, que possui campo magnético específico, toda criatura traz consigo o halo ou aura de forças criativas ou destrutivas que lhe marca a índole, no feixe de raios invisíveis que arroja de si mesma. É por esse halo que estabelecemos as nossas ligações de natureza invisível nos domínios da afinidade. Operando a onda mental em regime de circuito, por ela incorporamos, quando moralmente desalentados, os princípios corrosivos que emanam de todas as Inteligências, encarnadas ou desencarnadas, que se entrosem conosco no âmbito de nossa atividade e influência. Projetando as energias dilacerantes de nosso próprio desgosto, ante a culpa que adquirimos, quase sempre somos subitamente visitados por silenciosa argumentação interior que nos converte o pesar, inicialmente alimentado contra nós mesmos, em mágoa e irritação contra os outros. É que os reflexos de nossa defecção, a torvelinharem junto de nós, assimilam, de imediato, as indisposições alheias, carreando para a acústica de nossa alma todas as mensagens inarticuladas de revolta e desânimo, angústia e desespero que vagueiam na atmosfera psíquica em que respiramos, metamorfoseando-nos em autênticos rebelados sociais, famintos de insulamento ou de escândalo, nos quais possamos dar pasto à imaginação virulada pelas mórbidas sensações de nossas próprias culpas. É nesse estado negativo que, martelados pelas vibrações de sentimentos e pensamentos doentios, atingimos o desequilíbrio parcial ou total da harmonia orgânica, enredando corpo e alma nas teias da enfermidade, com a mais complicada diagnose da patologia clássica. A noção de culpa, com todo o séquito das perturbações que lhe são consequentes, agirá com os seus reflexos incessantes sobre a região do corpo ou da alma que corresponda ao tema do remorso de que sejamos portadores. Toda deserção do dever a cumprir traz consigo o arrependimento que, alentado no espírito, se faz acompanhar de resultantes atrozes, exigindo, por vezes, demoradas existências de reaprendizado e restauração. Cair em culpa demanda, por isso mesmo, humildade viva para o reajustamento tão imediato quanto possível de nosso equilíbrio vibratório, se não desejamos o ingresso inquietante na escola das longas reparações. É por essa razão que Jesus, não apenas como Mestre Divino mas também como Sábio Médico, nos aconselhou a reconciliação com os nossos adversários, enquanto nos achamos a caminho com eles, ensinando-nos a encontrar a verdadeira felicidade sobre o alicerce do amor puro e do perdão sem limites. (Do livro "Pensamento e Vida", cap. 22, Espírito Emmanuel, Francisco Cândido Xavier)

Ajuda Sempre

Mas Paulo respondeu: que fazeis vós, chorando e magoando-me o coração. – Atos, 21:13. Constitui passagem das mais dramáticas nos Atos dos Apóstolos aquela em que Paulo de Tarso se prepara, à frente dos testemunhos que o aguardavam em Jerusalém. Na alma heróica do lutador não paira qualquer sombra de hesitação. Seu espírito, com sempre, está pronto. Mas, os companheiros choram e se lastimam; e, do coração sensível e valoroso do batalhador do Evangelho, flui a indagação dolorosa. Não obstante a energia serena que lhe domina a organização vigorosa, Paulo sentia falta de amigos tão corajosos quanto ele mesmo. Os companheiros que o seguiam estavam sinceramente dispostos ao sacrifício, entretanto, não sabiam manifestar os sentimentos da alma fiel. É que o pranto ou a lamentação jamais ajudam, nos instantes de testemunho difícil. Quem chora, ao lado de um amigo em posição perigosa, desorganiza-lhe a resistência. Jesus chorou no Horto, quando sozinho, mas, em Jerusalém, sob o peso da cruz, roga às mulheres generosas que O amparavam a cessação das lágrimas angustiosas. Na alvorada da Ressurreição, pede a Madalena esclareça o motivo do pranto, junto ao sepulcro. A lição é significativa para todo o aprendiz. Se um ente amado permanece mais tempo sob a tempestade necessária, não te entregues a desesperos inúteis. A queixa não soluciona problemas. Ao invés de magoá-lo com soluços, aproxima-te dele e estende-lhe as mãos. Emmanuel Pão Nosso – Psicografia: Francisco Cândido Xavier – Ed.: FEB.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Amor Fraternal

Os que nascemos em uma mesma família estamos unidos pelos laços de sangue. Esses laços, no entanto, não configuram laços de amor necessariamente. Não é raro irmãos viverem às turras, ou terem muito ciúme e inveja uns dos outros, criando dificuldades de relacionamento no lar. Ou chegarem mesmo à agressão, à usurpação dos direitos e bens uns dos outros. Contudo, quando os laços afetivos existem, é comovedor se observar a dedicação de alguns irmãos. Carinho, atenção, dedicação, renúncia são algumas das expressões que surgem, de forma espontânea e comovedora. Recentemente, soubemos da história de uma garotinha de seus 4 para 5 anos de idade. Seu irmãozinho, de oito anos, enfermou e o diagnóstico foi leucemia. Pai e mãe passaram a se desvelar pelo garoto. Exames, internamentos, quimioterapia. Tudo o que a medicina hoje oferece aos portadores dessa enfermidade. Certo dia, a mãe tomou a menina entre seus braços e explicou que o irmão ficaria num hospital, durante algum tempo. Ele precisava de um tratamento especial para melhorar. Explicou também que, quando ele voltasse, ela não se assustasse porque, possivelmente, por causa do tratamento, ele teria perdido todo seu cabelo. Também lhe recomendou que não risse ou fizesse brincadeiras quando visse a “carequinha” do irmão. A menina ouviu com atenção e ficou calada. A mãe até pensou que ela não havia entendido bem. Entretanto, resolveu esperar. Alguns dias depois, os pais foram buscar o garoto no hospital. Quando o carro chegou na frente da casa, a garotinha olhou pela janela do primeiro andar e sorriu. Seu irmão estava de volta. E na cabeça, um boné vermelho. Correu para o banheiro, tomou a tesoura de sua mãe e concretizou o plano que estava em sua cabecinha, desde sua conversa com a mãe. Pouco depois, desceu as escadas aos pulos. Abriu a porta no exato momento em que o irmão chegava. Então, ela o olhou por um segundo, como a querer se certificar de que ele estava mesmo sem cabelo. No momento seguinte, estendeu as mãozinhas cheias de seus próprios cabelos para ele. Ele olhou para a irmãzinha e verificou que ela trazia os cabelos desalinhados, mostrando que os havia cortado, do jeito que pudera, com suas pequenas mãos. Um lado mais curto do que o outro, as franjas tortas como se fossem degraus de uma escada mal construída. Ela não disse nada. Nem ele. Os pais, um passo atrás do menino, observavam, atônitos. Então o garoto tomou nas suas mãos os cabelos que a irmã lhe oferecia e, com um sorriso largo, tirou o próprio boné e colocou na cabecinha dela. Depois se ajoelhou e ambos se abraçaram longa e demoradamente. Amor fraternal é a mais fundamental espécie de amor. É a que alicerça todos os tipos de amor. Entende-se por amor fraternal o sentimento de responsabilidade, de cuidado, de respeito pelo outro, o seu conhecimento, o desejo de lhe aprimorar a vida. Do lar, o amor fraternal transcende para os demais seres humanos. Se desenvolvemos a capacidade de amar a um irmão consangüíneo, não podemos deixar de amar, na seqüência, a todos os demais irmãos. O amor fraternal é o amor entre iguais. Iguais por sermos todos Espíritos, filhos do mesmo Pai. Iguais, hoje, na Terra, por estarmos na condição humana. Se pensarmos nas diferenças de talento, inteligência, conhecimento, veremos que são pequenas, se compararmos com a identidade essencial, comum a todos nós. * * * O amor é uma força ativa no homem. Uma força que irrompe pelas paredes que o separam de seus semelhantes. Que o une aos outros. Que o estimula a dar-se, numa extraordinária experiência de vitalidade e de alegria. Redação do Momento Espírita, a partir de cenas de um vídeo intitulado Gesto de amor, de autoria desconhecida e do cap. 2 do livro A arte de amar, de Erich Fromm, ed. Itatiaia. Em 23.11.2007.